Opinião: Ação e reação no mundo conectado do biodiesel e do agronegócio
- 9 de abril de 2025

Ao mesmo tempo, não existem decisões unilaterais que não provoquem consequências além dos seus próprios limites. Os eventos não são isolados, mas relacionados a outros em um processo em cadeia de consequências.
Já sabemos que, na Economia, decisões em uma área específica podem afetar outros segmentos, que reagem em busca de um novo equilíbrio.
Recentemente voltamos a constatar, com todas as dores envolvidas, que o sintoma da inflação nacional não pode ser combatido como uma ação localizada sobre o nível de mistura de biodiesel ao diesel fóssil, como se um agente tivesse a capacidade de represar uma questão complexa.
Às vésperas de cumprir uma nova etapa regulatória e atingir a mistura de 15% de biodiesel (B15), em março, o setor se viu como única vítima para frear o aumento da inflação brasileira. Uma combinação de notícias desencontradas, aumento do diesel e de tributos sobre combustíveis e, principalmente, dos preços internacionais das commodities agrícolas levou a que um bisturi fizesse uma incisão interrompendo a trilha do crescimento da mistura do biodiesel.
No sentido contrário, o planejamento por meio da construção de políticas públicas cria um ambiente adequado de segurança jurídica e de previsibilidade em um fluxo virtuoso que formatou as bases de crescimento desse segmento da indústria de biocombustíveis.
O setor do biodiesel completou recentemente 20 anos de história alicerçada no esforço empreendedor de seus empresários, em conjunto com toda a cadeia produtiva, em especial a agricultura familiar.
Uma medida que nasceu da necessidade de reduzir o aquecimento global e de promover a transição energética, e que acabou impulsionando toda uma cadeia produtiva do agronegócio, além de catapultar o país ao posto de um dos maiores fornecedores globais de alimentos.
Ao mesmo tempo, na esteira dessa história, o Brasil foi beneficiado com mais qualidade de vida e mais saúde para toda a sociedade, com desenvolvimento sustentável e crescimento da economia e do emprego verdes.
Ao longo de todo esse tempo, o setor esteve nas trincheiras em defesa do biocombustível, o que colocou o país como referência global em transição energética.
Nessa corrente positiva de aumento do PIB brasileiro, a aprovação do Combustível do Futuro por unanimidade dos nossos legisladores levou às manchetes de nossa imprensa o anúncio de uma série de investimentos em nossa indústria para responder às novas demandas estimadas de biocombustíveis.
A decisão de manutenção da mistura gera um desequilíbrio artificial que pode provocar freios nos investimentos e tem consequências potenciais nos custos de produção de alimentos em razão da redução de oferta de farelo de soja para as rações animais.
Quem conhece os biocombustíveis do Brasil sabe que o país é referência e seu modelo pode nos transformar em uma potência econômica global nesse modelo de transição. Para isso, é importante cuidar do que é mais importante.
O setor do biodiesel está apoiando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para avançar nas medidas de fiscalização urgentes e amplas para reverter uma situação de fraude constatada na composição da mistura de biodiesel e garantir à população o direito a uma vida mais saudável, sem sofrer com eventos climáticos extremos que ceifam vidas.
E, o quanto antes, precisamos retomar o ponto de equilíbrio e resgatar o processo de avanço da mistura de biodiesel para 15% – não há mais tempo a perder.
Por Francisco Turra, Presidente dos Conselhos de Administração da APROBIO e Consultivo da ABPA, ex-ministro da Agricultura
Publicado originalmente no Agro Estadão