Especialistas alertam para impossibilidade de identificar parcela renovável do diesel coprocessado

    22 de maio de 2024

compartilhe

Especialistas da área de biocombustíveis criticaram, nesta terça-feira (21), a possibilidade de incluir o diesel coprocessado no mandato do diesel verde previsto no projeto de lei Combustível do Futuro. Durante audiência pública no Senado, os acadêmicos apontaram para entraves técnicos e regulatórios à entrada do combustível na proposta, que cria um marco legal para os biocombustíveis.

Um dos mais respeitados estudiosos sobre o tema, o professor Paulo Suarez, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), não é possível viabilizar estudos técnicos sobre o percentual de matéria renovável contido no diesel coprocessado, cuja patente é detida pela Petrobras.

“Só há um teste que permitiria isso, que é o de Carbono 14. Sem isso, eu não tenho garantia do quanto de conteúdo renovável estará ao final do coprocessamento. Existem quebra de moléculas, onde são produzidos gases, águas, e outros compostos. Só eu saber o quanto eu introduzi [de renovável] no início, não me garante o resultado final – e o Carbono 14 não é algo simples”, disse o especialista.

Já o Professor Donato Aranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que, além da viabilidade técnica, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já emitiu resolução com a especificação do diesel coprocessado, que deverá se tratado como diesel A.

“Há semanas atrás a ANP publicou a resolução 968/2024. Temos, então, três resoluções que envolvem os combustíveis do ciclo diesel. E ele inclui pela primeira vez o Diesel C, que é o coprocessado, e não um biocombustível”, argumentou.

“A especificação do diesel C é totalmente diferente da tabela do diesel verde. É até uma injustiça aos futuros produtores do diesel verde ele competir [com o coprocessado], apesar da parcela renovável”, acrescentou.

Os dois acadêmicos são signatários de uma carta enviada ao governo brasileiro, em 2021, sobre as definições do biodiesel, diesel verde e diesel coprocessado, assinado por membros da comunidade científica.

Durante a reunião, os especialistas também trataram dos benefícios e do rigor técnico acerca das testagens de qualidade do biodiesel no país. O professor Donato Aranda ressaltou as externalidades do biocombustível e seus efeitos benéficos sobre o meio ambiente, saúde pública, redução de custos ao Estado e o desenvolvimento do interior.

Por sua vez, o professor Paulo Suarez afirmou que “nunca foi introduzido um combustível no país antes de fazer testes de longo prazo”, e criticou estudos de entidades como a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) que carecem de fundamento científico. “São notícias sem fundamento”, alertou.