Opinião: A ciência comprova que a produção de biocombustíveis e de alimentos crescem juntas

    30 de abril de 2025

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A academia e o setor industrial reuniram um compilado de estudos internacionais que demonstram de forma inequívoca que não há concorrência entre a produção de alimentos e a de biocombustíveis. O que ocorre é exatamente o contrário. Ao avaliar uma vasta literatura sobre o tema, a partir de uma análise estatística de comparação de artigos científicos, a pesquisa descobriu que as correlações feitas com a segurança alimentar são a partir de modelagens, sem conhecer na prática o que é feito no campo da agricultura, observando os dados reais.

O trabalho foi liderado pela professora da USP e coordenadora do programa de Pesquisa em Bioenergia Fapesp, além de líder da Força-Tarefa de Descarbonização do Transporte com Biocombustíveis da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), Glaucia Souza. Para esclarecer essa falsa percepção de competição, a professora apresentou o modelo das práticas da agricultura brasileira que muitos países não conhecem.

O compilado de mais de 80 pesquisas científicas foi apresentado em um evento paralelo às reuniões da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), onde se discutiu mecanismos para a descarbonização de navios no horizonte até 2050. A iniciativa contou com apoio da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO). Veja na íntegra o estudo neste link.

O estudo nasceu durante o G20, no ano passado, e reforça a necessidade de demonstrar que os países do Sul Global podem contribuir de maneira significativa na trajetória carbono zero líquido da navegação.

Uma consequência da análise desse documento é que fica evidente o potencial das economias emergentes em países que não produzem, mas já têm cultivo e vocação para a agricultura, de produzir biocombustíveis. Já nos países que são protagonistas nesse setor, como na região da América Latina, é possível dobrar a produção de biocombustíveis e atender às demandas da transição energética.

O Brasil já é uma referência em produção de alimentos e de bicombustíveis, e deve crescer ainda mais nessas áreas por meio da transição energética de uma forma socialmente justa e escalável. Podemos demonstrar que todo o Cone Sul pode contribuir com a descarbonização, em um contraponto à defesa de rotas tecnológicas específicas que ainda não estão disponíveis em larga escala.

O nosso pleito principal é permitir que todos participem. Permitir uma transição energética em base global, em que as regras sejam globais, mas que cada região possa contribuir com o que tiver de melhor, e não simplesmente predefinir rotas tecnológicas, que apenas um grupo de indústrias possa acreditar que queira desenvolver. Sem dúvidas, esse é o caminho a ser seguido.

Por Francisco Turra, Presidente dos Conselhos de Administração da APROBIO e Consultivo da ABPA, ex-ministro da Agricultura
Publicado originalmente no Agro Estadão